"Tirem-no da mesa". Médico interrompe doação de órgãos e salva vida
- 06/10/2025
Larry Black Jr., de 22 anos, foi baleado na cabeça em 24 de março de 2019, tendo sido levado para o hospital. Cerca de uma semana depois, foi levado para uma cirurgia para retirar os seus órgãos para doar. Dada a gravidade do incidente, não parece inverosímil. O único problema é que Larry... ainda estava vivo.
Já deitado na mesa cirúrgica, Larry esteve a segundos de ter os seus órgãos removidos. Nessa altura, um médico correu para a sala de operações e, ao entrar, gritou: "Tirem-no da mesa. Este paciente é meu. Tirem-no da mesa".
A equipa cirúrgica do Hospital universitário SSM Health Saint Louis não reconheceu de imediato o médico, tratando-se de Zohny Zohny - o neurocirurgião designado para o caso de Larry.
Sem perceber o que se estava a passar, a equipa referiu ter o consentimento da família do jovem para proceder à doação dos órgãos, conta a CNN International.
"Não quero saber se temos consentimento. Ainda não falei com a família e não concordo com isto. Tirem-no da mesa", recordou Zohny.
Mas, afinal o que aconteceu?
Larry Black Jr. foi baleado na cabeça quando estava a caminho de casa da irmã.
"Não percebi que tinha levado um tiro", disse Black, acrescentando que ainda correu "um ou dois quarteirões". No entanto, algum tempo depois, acabou por colapsar, tendo-se arrastado até à porta de casa de uma vizinha onde pediu ajuda.
Posteriormente, foi transportado para o hospital e pediu à irmã que não se preocupasse. A caminho do hospital perdeu várias vezes a consciência.
Cerca de uma semana depois, uma mulher com folhetos sobre a doação de órgãos dirigiu-se à família dizendo que Larry era um potencial dador, uma vez que essa informação constava no seu cartão de identificação.
"Lembro-me de a minha mãe dizer: 'Agora não, ainda é cedo'", contou a irmã de Larry. Mas, a mulher insistiu.
"Ela perguntou: 'Posso deixar-vos alguns folhetos?'. A minha mãe ficou nervosa porque parecia que nos estava a pressionar", acrescentando que a família já tinha passado por um episódio semelhante com outro irmão que morreu afogado em 2007 e os seus órgãos foram doados.
Embora houvesse alguma resistência, a família acabou por consentir a doação dos órgãos de Larry. De seguida, foram avisados que se deviam preparar para a "última caminhada da vida" do jovem de 22 anos.
A irmã de Larry continuava, no entanto, a acreditar que o irmão poderia continuar a lutar pela vida e, por isso, pediu aos médicos que reavaliassem o caso antes de levarem Larry para a sala de operações.
"Eu disse: 'O meu irmão está a bater na cama' e responderam que era apenas uma reação, efeito da medicação. Eu insisti porque ele estava demasiado alerta, parecia querer dizer-nos: 'Por favor, não deixem que façam isto comigo. Estou aqui'", recordou.
"Não, não pode ser o meu paciente"
O neurocirurgião Zohny revelou que ouviu pelo altifalante do hospital o anúncio de uma "caminhada do herói". Uma vez que não conhecia o termo, perguntou do que é que se tratava. Assim, os seus colegas médicos explicaram-lhe que a "caminhada" possivelmente seria para o seu paciente Larry.
"Não, não pode ser o meu paciente. Não concordei", disse.
Zohny ligou para a UCI - Unidade de Cuidados Intensivos - e a pessoa que atendeu deu-lhe a notícia de que o seu paciente estava a ser levado para a sala de operações.
O neurocirurgião deu ainda conta de que Larry não tinha sido submetido a um exame de morte cerebral, tendo informado o seu diretor e corrido para a sala de operações. Por sua vez, a família de Larry, que aguardava no corredor, foi conduzida por Zohny para uma sala vazia e disse: "Não posso matar o seu filho".
Desta feita, mostrou-lhe imagens do cérebro de Larry, apontou qual a aérea que estava danificada e explicou que a ferida da bala era algo de que o jovem poderia recuperar. Perguntou se estavam dispostos a dar-lhe mais tempo para recuperar, em vez de suspender os cuidados médicos.
"Acho que nenhuma família consentiria a doação de órgãos a não ser que lhes tivesse sido transmitido que o seu familiar tinha um prognóstico muito grave. Nunca discuti o prognóstico com a família, porque ainda era demasiado cedo para isso", explicou.
Zohny assumiu que poderia estar a correr um risco profissional, mas "o pior cenário era perder o emprego" e "para ele, o pior seria perder a vida injustamente".
Depois do episódio, Zonhy retirou todos os sedativos de Larry, que acordou dois dias depois e começou a falar. Na semana seguinte, estava já de pé.
Larry Black Jr. tem hoje 28 anos. É músico e pai de três filhos. Teve de reaprender a andar, a soletrar e a ler. "Tive de aprender o meu nome, o meu número da segurança social, a minha data de nascimento, tudo".
Para Zohny, foi "um milagre absoluto" ter conseguido salvar a vida do jovem de 22 anos.
A estação televisiva refere que o hospital se recusou a comentar os detalhes do caso de Larry.
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