Refém libertado de Gaza diz ter sido sexualmente agredido por captor
- 20/11/2025
Trata-se do primeiro homem a fornecer um testemunho tão cru sobre sevícias sexuais sofridas durante o cativeiro em Gaza.
"Ele [o captor] deixava-me tomar um duche e, quando eu acabava, puxava-me para fora e não me deixava vestir", relatou o jovem de 24 anos, num excerto da entrevista exclusiva concedida ao Canal 12, que será exibida na sexta-feira à noite.
"Levava-me de volta para o quarto deles, atirava-me para uma das poltronas e começava a tocar-me em todo o corpo", descreveu o ex-refém no vídeo, disponível no 'site' do canal televisivo na Internet.
"Eu disse-lhe 'Mas isto é proibido no Islão', então ele apontou-me uma espingarda à cabeça e encostou-me uma faca à garganta e ameaçou matar-me se eu falasse sobre o assunto", acrescentou.
Quando a jornalista lhe perguntou se tinha sido um incidente isolado, o jovem respondeu que não, mas não podia falar sobre o assunto.
Guy Gilboa-Dalal foi sequestrado com o melhor amigo, Evyatar David, no festival techno Nova, a 7 de outubro de 2023, durante o ataque do movimento islamita palestiniano Hamas a território israelita que desencadeou a guerra de Israel na Faixa de Gaza.
Foi visto com Evyatar David em fevereiro deste ano num vídeo do Hamas, a assistir a uma das cerimónias de libertação de reféns em Gaza, antes de ser trancado numa viatura, a implorar para ser libertado.
Acabou por sê-lo juntamente com os restantes 19 reféns sobreviventes do 7 de outubro de 2023, após o anúncio, a 8 de outubro deste ano, de um acordo de cessar-fogo entre o Hamas e Israel que entraria em vigor dois dias depois.
Ao depor, em meados de novembro, em Genebra, perante a Comissão da ONU contra a Tortura, a ex-refém Aviva Siegel relatou ter testemunhado violência sexual contra reféns durante o seu cativeiro.
Por sua vez, Amit Sussana tornou-se a primeira refém a revelar publicamente, em março de 2024, numa entrevista ao diário norte-americano The New York Times, que tinha sido sexualmente agredida por um dos seus captores.
Num relatório divulgado no início de 2024 após uma missão a Israel, quando havia ainda cerca de uma centena de reféns vivos em cativeiro em Gaza, a Representante Especial do Secretário-Geral da ONU para a Violência Sexual em Conflitos afirmou ter recebido, "com base em testemunhos diretos de reféns libertados [...], informações claras e convincentes indicando que foi infligida violência sexual, incluindo violações e tortura sexualizada, a algumas mulheres e crianças durante o seu cativeiro" em Gaza.
Israel declarou a 7 de outubro de 2023 uma guerra na Faixa de Gaza para "erradicar" o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas e sequestrando 251.
A guerra de retaliação israelita fez, até agora, pelo menos 69.546 mortos - entre os quais mais de 20.000 crianças - e 170.833 feridos, na maioria civis, segundo números hoje atualizados pelas autoridades locais (com as vítimas das quebras do cessar-fogo por Israel), que a ONU considera fidedignos.
Fez também milhares de desaparecidos, soterrados nos escombros e espalhados pelas ruas, e mais alguns milhares que morreram de doenças e infeções e fome, causada por mais de dois meses de bloqueio total de ajuda humanitária e pela posterior entrada a conta-gotas de mantimentos, distribuídos em pontos considerados "seguros" pelo Exército, que regularmente abria fogo sobre civis famintos.
Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusara Israel de genocídio em Gaza e de usar a fome como arma de guerra, situação também denunciada por países como a África do Sul junto do Tribunal Internacional de Justiça, e uma classificação igualmente utilizada por organizações internacionais de defesa dos direitos humanos.
Leia Também: Israel investiga ligações à Turquia de suposta rede do Hamas na Europa















