Primeiro-ministro francês de saída: "Não estavam reunidas as condições"
- 06/10/2025
O agora primeiro-ministro demissionário da França afirmou, esta manhã, que decidiu resignar ao cargo por considerar que "não estavam reunidas as condições" para exercer o cargo.
Sébastien Lecornu afirmou que a tarefa de governar o país "é difícil neste momento", não tendo reunido as "condições" para que o conseguisse fazer.
"Ser primeiro-ministro é uma tarefa difícil, sem dúvida ainda mais difícil neste momento. Mas não se pode ser primeiro-ministro quando as condições não estão reunidas", afirmou.
O governante reconheceu que tem "falado pouco" nas últimas semanas, porque estava mais empenhado "em construir um caminho com os parceiros sociais".
Lecornu disse que tentou "construir um caminho (...) em questões que anteriormente estavam bloqueadas", como o seguro de desemprego e a segurança social, para "restabelecer a gestão conjunta" e delinear um roteiro para tirar a França da crise.
E apontou depois três razões para não continuar no cargo.
Primeiro, disse que os partidos políticos "às vezes fingiram ignorar a mudança, a profunda rutura que representava não aplicar o Artigo 49.3 da Constituição", que permite aprovar leis sem o acordo do parlamento.
Segundo Lecornu, a renúncia à aplicação do artigo em causa destruía o argumento da censura prévia da Assembleia Nacional.
"A segunda questão é que os partidos políticos continuam a assumir uma postura como se todos tivessem maioria absoluta na Assembleia Nacional. E, no fundo, encontrei-me numa situação em que estava disposto a fazer concessões, mas cada partido político quer que o outro adote na íntegra o seu programa", prosseguiu.
A terceira questão, defendeu, teve a ver com o facto de a “composição do governo não ter sido fluída e ter dado origem ao despertar de alguns apetites partidários”, na sua opinião, relacionados as “futuras eleições presidenciais.
Por fim, Sébastien Lecornu decidiu concluir deixando uma mensagem de “esperança e otimismo um carácter que nem sempre tenho”, referindo que às vezes “é preciso pouco para que as coisas funcionem”. Nessa linha, defendeu que é preciso um “pouco de modéstia por parte de certos egos”. E lamentou as pessoas na oposição que vêem “linhas vermelhas” em tudo e defendeu que é preciso “humildade” para se conseguir avançar e que é “preciso ter sempre em mente o interesse geral e o essencial”.
Agradeceu ainda a alguns partidos da oposição que compreenderam que o princípio de construir um compromisso "é poder combinar linhas verdes e ter em conta um certo número de linhas vermelhas", sem estar nos dois extremos.
Lecornu insistiu que, apesar do mapa parlamentar fragmentado, com três blocos praticamente com o mesmo peso (aliança de esquerda, macronistas e centristas, e extrema-direita), as forças políticas deveriam "ser capazes de avançar".
"Pelo menos para que aqueles que querem encontrar um caminho para o país possam avançar", acrescentou.
A demissão 27 dias após ter sido nomeado, o que o torna o primeiro-ministro mais efémero da V República, fundada em 1958, abre as portas a diferentes cenários, incluindo a convocação de eleições antecipadas.
A demissão
O primeiro-ministro francês, Sebastien Lecornu, apresentou, esta segunda-feira, o seu pedido de demissão a Emmanuel Macron.
Sebastien Lecornu assumiu o cargo, recorde-se, há menos de um mês, mais precisamente a 9 de setembro deste ano.
A sua demissão abriu caminho para diferentes cenários, incluindo a convocação de eleições antecipadas em França.
Os ministros em exercício cancelaram hoje as suas agendas, alguns deles fora de Paris, como o ministro da Justiça, Gérald Darmanin, aguardando o desfecho da nova situação.
O chefe do governo gaulês estava sob fogo cruzado das críticas da oposição e da direita depois de ter revelado, no domingo à noite, parte da sua equipa governamental.
Por trás da surpreendente demissão de Lecornu está a posição de um dos seus aliados, o partido conservador Republicanos, cujo líder, Bruno Retailleau, manifestou no domingo à noite a sua insatisfação com a composição do novo Governo, no qual esperava ter uma maior presença. Retailleau havia convocado para hoje uma reunião do seu partido para decidir se abandonava o Governo.
[Notícia atualizada às 12h13]
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