Presidente de Cabo Verde alerta para "sinais de desgaste"
- 06/10/2025
"A presente geração deve reaprender a discordar sem romper e, das discordâncias, saber tecer os consensos indispensáveis à defesa da democracia e à aceleração do desenvolvimento", defendeu José Maria Neves, após receber, em Lisboa, o título Honoris Causa pela Universidade Lusófona.
O chefe de Estado partilhou algumas das etapas mais importantes do seu percurso com a audiência, a qual é comum "a muitos cabo-verdianos".
"A minha trajetória, por mais singular que possa parecer, inscreve-se numa realidade partilhada por muitos cabo-verdianos: A de ver na educação o caminho possível --- e, por vezes, o único --- para vencer as limitações impostas pela geografia e pela escassez de recursos".
"Numa terra marcada pela falta material, mas abundante em dignidade e aspiração, o saber impôs-se como vocação coletiva e promessa de futuro", disse.
E referiu que a democracia em cabo Vede não foi legada ao seu povo "por inércia, nem imposta de fora. Foi construída por cabo-verdianas e cabo-verdianos que compreenderam, desde cedo, que a soberania só se realiza plenamente quando se traduz em instituições sólidas, em participação cívica e em políticas públicas orientadas para o bem comum".
"Cabo Verde inscreve-se, assim, como referência de estabilidade democrática e de maturidade institucional no espaço da África Ocidental e no continente africano em geral", disse.
Para José Maria Neves, "as tecnologias informacionais, a inteligência artificial e as redes sociais fragmentaram a esfera pública e criaram dinâmicas instáveis no relacionamento entre o Estado e a sociedade".
O resultado, sublinhou, é claro: "Partidos, governos, sindicatos e outras instituições já não oferecem respostas satisfatórias. As pessoas, desesperadas, voltam-se para quem se apresenta como antissistema --- mesmo que a cura proposta seja ilusória".
"Acusar os radicais de serem antissistema ou ceder às suas propostas apenas reforçam a sua penetração. A resposta dos democratas deve ser outra: reengenharia profunda das instituições, significativas mudanças na ação política e novas formas de formular e implementar políticas públicas", alertou.
O Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, apadrinhou José Maria Neves, recordando nesta cerimónia o papel do homólogo cabo-verdiano como "homem, académico e político".
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