Parques de Sintra repara coberturas do palácio romântico de Monserrate
- 21/11/2025
O jardim romântico mandado plantar na segunda metade do século XIX pelo rico industrial Francis Cook e o palácio erguido sobre as ruínas de um castelo neogótico, é procurado por turistas de muitas origens e serve amiúde de cenário para fotos de família e celebrações, tendo como pano de fundo a variedade de espécies exóticas oriundas dos quatro cantos do mundo.
À beira do palácio que combina influências góticas, indianas e sugestões mouriscas, o presidente do conselho de administração da Parques de Sintra-Monte da Lua (PSML), João Sousa Rego, explica à Lusa que a sociedade de capitais públicos que gere monumentos na área de Paisagem Cultural vai "iniciar as obras de restauro das coberturas altas do palácio".
"São obras que não se fazem desde 2004 e que, de acordo com os nossos planos de manutenção plurianuais, verificou-se a necessidade desta intervenção profunda com um volume de investimento de cerca de 3 milhões de euros", explicou.
Segundo o responsável, foi detetada a "deterioração das estruturas de madeira, tendo em consideração a tela asfáltica" colocada, num monumento com "uma arquitetura que necessita de um acompanhamento muito próximo e daí a empresa ter desenvolvido monitorizações regulares" e ter "equipas internas de manutenção em todo o palácio".
A empreitada de recuperação, que se prolongará até "ao final do primeiro trimestre de 2027, inclui a recuperação das coberturas e da área da Copa dos Frescos", adjacente à cozinha, sob um dos terraços a sul do histórico edifício, classificado como Imóvel de Interesse Público.
"O palácio encontra-se maioritariamente com um estado de conservação regular e aceitável, sem grandes perdas patrimoniais", salientou Sousa Rego, admitindo, contudo, que "as coberturas tiveram uma deterioração um pouco mais acentuada do que era expectável" e isso levou a "uma intervenção de fundo".
O responsável da PSML adiantou que a obra implica o "levantamento da cobertura", permitindo "ver espaços e áreas que atualmente estão fechadas a qualquer pessoa" e "ter uma intervenção mais cuidada, com tempo", com os registos necessários também "para garantir que ficam para memória futura".
A tarde decorre soalheira, em contraste com os céus carregados de chuva dos dias anteriores, mas da linha do horizonte a norte avançam nuvens cinzentas que tornam mais baças as três cúpulas de tonalidade vermelha do palácio.
No torreão sul, a platibanda sob as caleiras de escoamento em ferro fundido exibe falhas que caíram devido a infiltrações, que num dos lados se encontra preso com cabos de aço, só visíveis no varandim do torreão central vedado ao público, virado para o Castelo dos Mouros e o Palácio da Pena, e em vários beirados já se podem observar ervas ou mesmo fetos.
No torreão norte, sobre a exuberante Sala da Música, a platibanda por baixo das caleiras desapareceram, facilitando as infiltrações e a exposição ao ambiente húmido da serra.
A empreitada, adiantou o diretor do Património Construído da PSML, João Cortês, envolve os torreões sul, central e norte, os "vãos todos, caixilharia e elementos pétreos, as fachadas", desde os "trabalhados todos nas fachadas principais até só as alvenarias" e revisão das "juntas todas em argamassa", as "drenagens e ainda a Copa dos Frescos".
No âmbito das metodologias de intervenção em património, a empresa faz "uma manutenção regular" dos monumentos sob a sua gestão, mas foram identificadas "patologias profundas que não se conseguem resolver com uma manutenção simplesmente preventiva ou mesmo corretiva" e, por isso, houve necessidade de avançar com "uma intervenção de larga escala de reabilitação profunda das coberturas", salientou.
O diretor técnico frisou que a empreitada irá "respeitar ao máximo os princípios da autenticidade e de intervenção mínima e de reversibilidade", mantendo, "na medida do possível e em praticamente todas as ações, os materiais e as tipologias construtivas da época".
Nesse sentido, será mantido o revestimento em chumbo das coberturas, "as caleiras em ferro fundido", reabilitados "os sistemas de suporte estruturais das coberturas", mantidas "as descargas de drenagem em chumbo" e também "reproduzidas as telhas tal qual como existem", mantendo "a materialidade original".
A telha Monserrate, modelo reproduzido na anterior campanha de reabilitação, iniciada em 2001, mas logo interrompida por falta de verbas e posteriormente retomada e concluída em 2004, já não é produzida pelo mesmo fabricante.
No entanto, João Cortês confia que vão "recuperar os moldes" ou fazer reproduções "fidedignas das que existem", fabricando exemplares com mais medidas de canal, do beirado até ao encastramento, para evitar cortes que facilitam infiltrações e melhorar "a estanquidade".
Os visitantes, que se espalham pelas várias salas do monumento, tiram fotografias e lêem os painéis informativos sobre este testemunho da arquitetura romântica, que deve o seu nome a uma pequena ermida edificada por Frei Gaspar Preto, em 1540.
"Tivemos até outubro de 2025 [...], 200 mil visitantes para o parque e o palácio. Tem sido um palácio com bastante atratividade", referiu João Sousa Rego, destacando o valioso acervo de "elementos de natureza e de património construído e estatuário que o parque tem ao longo de todo o espaço".
"Não nos podemos esquecer que estamos a falar de um parque romântico, todo ele pensado e trabalhado para ter esta espetacularidade que podemos absorver", resumiu o presidente da PSML.
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