Ministro de Tuvalu convida céticos do clima a viverem no país ameaçado
- 21/11/2025
"Para nós, [a mudança climática] é uma realidade vivida. E se alguém disser que não acredita nas alterações climáticas, eu convidá-lo-ia a vir ficar comigo em Tuvalu e ver quão corajoso consegue ser perante essa realidade", disse Maina Talia, sem nomear diretamente o Presidente norte-americano, Donald Trump, que classificou as mudanças climáticas como "a maior farsa" do mundo.
O ministro do Interior, Mudanças Climáticas e Meio Ambiente de Tuvalu, que falava a jornalistas portugueses em Belém, no Brasil, num evento à margem da 30.ª conferência do clima da ONU, a decorrer na cidade amazónica até sexta-feira, explicou que o seu país tem apenas 26 quilómetros quadrados de terra, pouco mais de dois metros de altitude, sem montanhas nem rios, e nele vivem cerca de 10 mil pessoas.
O arquipélago tem testemunhado mudanças nos padrões climáticos, mas não só: "O mar está a borbulhar do subsolo e também a entrar pelos lados. E como não há para onde subir, torna tudo ainda mais difícil. A maior parte das ilhas de Tuvalu são apenas tiras de terra. A grande questão é: quanto tempo temos até termos de nos realocar?", disse.
De acordo com as previsões, Tuvalu será o primeiro país a ficar submerso, o que poderá acontecer daqui a 50 anos, se nada for feito para alterar o rumo atual, mas Maina Talia diz que o país continuará a lutar, com a coragem do povo e com a combatividade dos políticos.
O governante tuvaluano lamentou que os Estados Unidos tenham abandonado pela segunda vez o acordo de Paris, mas manifestou gratidão por o resto do mundo se manter unido: "A decisão de um só país não se compara ao esforço do mundo inteiro".
Prometeu "lutar até ao fim" e continuar a responsabilizar os países poluidores para travar as alterações climáticas que ameaçam fazer submergir o arquipélago.
"O que nós, como políticos, estamos a fazer é lutar até ao fim. Queremos continuar a responsabilizar os países, porque o nosso contributo para a questão das alterações climáticas é de 0,00001%, praticamente nada, e no entanto estamos a sofrer o custo dos países emissores. É muito injusto e inaceitável", disse Maina Talia.
Maina Talia reconheceu que combater as alterações climáticas implica desafiar modos de vida, ao pedir a eliminação dos combustíveis fósseis, mas considerou tratar-se de uma obrigação moral.
"As alterações climáticas devem ser encaradas sob uma lente moral. Sabemos o que fazer. Sabemos as soluções. E, mesmo assim, tudo se resume a política, economia e acumulação de riqueza. Para nós, é sobrevivência. Para o Ocidente, é economia", lamentou.
Sobre a COP30, que está previsto terminar hoje em Belém, capital do estado brasileiro do Pará e porta de entrada na Amazónia, Maina Talia elogiou a organização brasileira pela inclusão dos povos indígenas e pela proteção das florestas, mas reconheceu que o processo da ONU "é sempre o mesmo: complexo e difícil de navegar".
Lamentou também que a escolha do anfitrião da próxima cimeira do clima, em 2026, tenha recaído na Turquia e não na Austrália, que também concorria a acolher a COP31, o que teria um valor simbólico por levar as discussões do clima para o Pacífico.
"O lado positivo é que a Austrália terá a presidência das negociações (...), a pré-COP [reunião prévia à cimeira do clima] será no Pacífico. Isso é muito importante para nós", afirmou, antecipando que, com a Austrália a liderar as negociações, o Pacífico terá espaço pôr na agenda temas como oceanos e subida do nível do mar.
E defendeu que o tema da próxima COP deve mesmo ser o oceano.
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