Felipe VI lembra: Democracia só é possível com "respeito face a desprezo"
- 21/11/2025
O Rei de Espanha lembrou hoje, quando o país vive tempos de "crispação e desacordo", que foi com diálogo, respeito mútuo e a priorização do bem comum que há 50 anos foi possível construir a democracia espanhola.
"Olhar para esse período pode servir-nos, não para o idealizar, mas para lembrar o método: a palavra face ao grito, o respeito face ao desprezo, a procura do acordo face à imposição", disse Felipe VI, referindo-se ao processo conhecido como "transição espanhola".
O processo de transição para a democracia iniciou-se há 50 anos com a morte do ditador Francisco Franco, em 20 de novembro de 1975, e a restauração da monarquia, com a proclamação de Juan Carlos I, dois dias depois.
"A transição não foi perfeita, mas avaliá-la só pelo que omitiu seria injusto. Nas circunstâncias do momento, fez-se o correto: deu-se prioridade à reconciliação, à estabilidade e à criação de um quadro [institucional] comum, tão necessário", afirmou Felipe VI, numa cerimónia no Palácio Real de Madrid, umas das celebrações com que hoje Espanha e a Casa Real celebram a restauração da monarquia no país e o papel da instituição no processo de democratização.
Para o chefe de Estado espanhol, esse espírito de "respeito mútuo", diálogo, negociação e cedências de todas as partes, "numa sociedade [então] marcada por décadas de repressão e divisões", foi "uma atitude política revolucionária".
"Em tempos em que o desacordo se expressa com crispação", Felipe VI lembrou que para Espanha se transformar numa "democracia europeia" houve "um grande pacto em que nenhum grupo conseguiu impor a sua visão completa porque todos compreenderam que a convivência exigia ceder em alguma coisa para ganhar um futuro comum".
Colocar o "bem comum acima de qualquer outro interesse continua a ser a base mais sólida sobre a qual construir o futuro de Espanha", acrescentou.
Na cerimónia a que presidiu no Palácio Real de Madrid, Felipe VI entregou hoje à mãe, Sofía, atualmente rainha emérita de Espanha e a viver separada do marido, Juan Carlos I, a mais alta condecoração concedida pela Coroa espanhola e o Estado espanhol, o Toisón de Ouro.
Receberam a mesma condecoração nesta cerimónia o ex-primeiro-ministro Felipe González e dois dos "pais da Constituição" de Espanha, Miquel Roca e Miguel Herrero y Rodríguez de Miñón.
Aos quatro foi reconhecido, desta forma, o contributo que deram para o processo de democratização de Espanha e a consolidação da monarquia parlamentar constitucional.
Além desta cerimónia, há hoje uma iniciativa no parlamento espanhol com o título "50 anos depois: a Coroa no trânsito para a democracia", a que assistirão também os Reis, Felipe VI e Letizia, e as filhas, a princesa Leonor, herdeira da coroa, e a infanta Sofia.
Ausente destas cerimónias institucionais está Juan Carlos I, um dos protagonistas da "transição espanhola", mas hoje caído em desgraça, por suspeitas de corrupção e polémicas da vida privada que o levaram a abdicar em 2014 e, desde 2020, a viver fora de Espanha, nos Emiratos Árabes Unidos.
Já no sábado, coincidindo com os 50 anos da coroação de Juan Carlos I, a família real celebrará um almoço no Palácio do Pardo, nos arredores de Madrid, com "caráter estritamente familiar e totalmente privado", a que Juan Carlos I deverá assistir, disseram as fontes da Casa Real.
As mesmas fontes lembraram que Juan Carlos I optou em 2020 por viver fora de Espanha, nos Emirados Árabes Unidos, e que o próprio decidiu então deixar de participar em iniciativas públicas institucionais.
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