Benguela adapta metodologias de Portugal para reintegração de crianças
- 21/11/2025
A vice-governadora para a área política, social e económica de Benguela, Cátia Cachuco, afirmou, em declarações à agência Lusa, que existem cerca de cinco mil crianças de rua nos 23 municípios da província de Benguela, Angola, destacando que o problema resulta da urbanização acelerada, pobreza extrema, exclusão e desestruturação familiar, e os impactos da guerra civil (1975-2002).
Entre 17 e 21 de novembro, a delegação angolana visitou linhas de apoio - SOS Criança e Jovem e Criança Desaparecida -, um centro de apoio comunitário em Marvila (Lisboa), e a Escola de Segunda Oportunidade (E2O-Lisboa). Também se reuniu com equipas do Instituto de Apoio à Criança (IAC) de Portugal, incluindo as equipas do Projeto de Rua e de intervenção.
A visita técnica da delegação do governo provincial de Benguela, promovida pelo IAC, decorreu no âmbito da Ação de Diálogo "Promoção da Estratégia para os meninos de rua em Benguela", implementada através do Programa Diálogos UE-Angola, financiado pela União Europeia (UE).
Cátia Cachuco liderou a delegação com o objetivo de "recolher experiências e metodologias portuguesas de sucesso na área de reintegração juvenil e proteção infantil, visando adaptá-las à realidade da província angolana e fortalecer políticas públicas direcionadas à inclusão social e ao desenvolvimento humano".
"Conseguimos palpar o terreno, ir, ver, constatar, e assim tivemos uma melhor precisão da complexidade do problema e das várias formas que o IAC e o Plano Português têm no tratamento desta situação", declarou a vice-governadora.
O programa, já aprovado pelo governo provincial de Benguela, baseia-se em cinco eixos do IAC, sendo esses a prevenção, integração, intervenção, conhecimento e cooperação, e a uma abordagem ampla.
"Estamos a perceber que os centros devem existir, sim, mas os assuntos, segundo a natureza, devem ser tratados lá onde estão. O IAC tem uma frase muito importante que nos chamou a atenção: ir e estar lá, estar com eles", acrescentou.
Entre as medidas que Benguela pretende implementar está a criação de linhas telefónicas especializadas para denúncias e proteção infantil, além da criação de novos centros.
Cátia Cachuco reconheceu que os principais desafios para a implementação do programa incluem a redução dos índices de pobreza familiar, a mudança do paradigma de vida das crianças e a falta de recursos humanos especializados na área da ação social.
A governante disse esperar "um programa robusto e sustentável" com o apoio do IAC, garantindo que será implementado "sem parar", depois de interrupções ocorridas no passado, para que as crianças tenham "os seus direitos protegidos".
Com o objetivo de garantir a sustentabilidade da iniciativa, o Governo Provincial aposta numa estratégia multifacetada que inclui novos parceiros, como a sociedade civil e o setor privado, além da UE.
A continuidade do projeto, segundo a vice-governadora, permitirá que os meninos de rua de Benguela, muitos deles vulneráveis à exploração laboral, violência e redes de criminalidade, "tenham uma direção que os leve a uma autonomia de sobrevivência, a uma autonomia profissional, a uma autonomia familiar".
A vice-presidente da direção do IAC, Matilde Sirgado, declarou que a intervenção de rua que combina respostas comunitárias, prevenção, gestão de crises, capacitação das famílias e articulação com escolas e serviços públicos "poderá inspirar a adoção também de metodologias eficazes no território de Benguela"
É fundamental "a adaptação cultural ao contexto", pois não se faz transferência de metodologias "sem fazer uma adaptação cultural ao contexto" angolano, concluiu Matilde Sirgado.
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