A ascensão e queda das casas de penhores de Macau

  • 05/10/2025

Um relógio de ouro brilhante e um anel de ouro com uma grande pedra de jade verde-viva atraem imediatamente o olhar para a mão esquerda. A mão direita está igualmente adornada, com um anel de dragão dourado enrolado no dedo indicador e um gigantesco rubi a cintilar no dedo anelar. Um cordão de contas de madeira envolve o pulso direito, acrescentando o toque final ao conjunto.

 

O legado de Alexander Leong começou em 1940, quando a família era dona de oito casas de penhores em Hong Kong.

Naquela época, durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa, as casas de penhores viviam um 'boom', alimentado pelos refugiados que fugiam para Hong Kong e Macau em graves dificuldades. "As pessoas penhoravam sapatos, edredões e roupas no tempo do meu avô", contou Leong à Lusa.

Depois de 70 anos no reduto dos jogadores, a loja mudou-se para um bairro habitado por trabalhadores migrantes. A mudança fez com que o negócio de Leong passasse a ter como principais clientes os trabalhadores de países do Sudeste Asiático, o que significou "lucros significativamente mais baixos".

"Um cliente jogador equivale a 30 ou 50 trabalhadores locais ou migrantes", estimou à Lusa, sublinhando que estes trabalhadores frequentemente penhoram joias para obter liquidez, depois de enviarem a maior parte dos salários para os países de origem.

Ainda assim, Alexander Leong não se arrepende da mudança. "Ainda bem que nos mudámos. Se não o tivéssemos feito, teria sido terrível", disse o empresário, que também é presidente do conselho fiscal da Associação dos Comerciantes de Penhores de Macau.

A família Leong testemunhou todo o ciclo de expansão e contração da indústria de penhores de Macau, um setor intrinsecamente ligado ao negócio dos casinos.

Logo a seguir à liberalização do jogo em 2003, conta Alexander, o número de casas de penhores em Macau "aumentou drasticamente", quando comparado com o período até antes da transferência de soberania do território para a China, em dezembro de 1999. "Macau tinha até então não mais de 40 ou 50 estabelecimentos destes", afirmou.

"Nos momentos de pico da atividade, por volta de 2014, havia mais de 200 casas de penhores", sublinhou. Este número caiu entretanto significativamente, hoje são apenas 56, um número que não se via desde o período anterior a 1999, e a descida ainda não estancou, face aos novos desafios que se anunciam.

O declínio começou em 2019. "Os protestos maciços em Hong Kong impactaram a nossa indústria em Macau. Os turistas [chineses] do continente tinham medo de vir a Hong Kong e, como Macau é vizinha, também não viajavam para cá", explicou o penhorista.

"Depois, quando chegou a pandemia, o negócio caiu a pique", continuou. Após o encerramento de fronteiras, muitos negócios de penhores, que antes funcionavam 24 horas por dia, passaram a ter horário apenas diurno. "Isto forçou o encerramento de inúmeras casas", acrescentou.

O desafio mais recente surge agora, com o encerramento dos casinos satélite até ao final do ano, e a crise no setor "vai aprofundar-se ainda mais", garante Alexander Leong.

Pelo menos nove casinos satélite deverão cessar atividade até 31 de dezembro, findo o período de carência de três anos concedido para acordos entre os operadores dos locais de jogo e os concessionários sob os quais operavam.

Daí para a frente, deverá imperar a lei do mais forte, apenas os melhores negócios sobreviverão, sem a perspetiva de ajudas externas ou outras que não as que assentam na própria natureza da atividade.

Também Leong sente que o setor tem sido "marginalizado pelas autoridades, que consideram os penhores um negócio de 'alto risco' para a lavagem de dinheiro".

Porém, argumenta, embora a indústria do jogo de Macau seja considerada nuclear, "as casas de penhores têm servido um propósito mutuamente benéfico, a si mesmas e aos poderes governantes, durante séculos".

As casas de penhores são uma parte vital do ecossistema, afirmou o líder associativo, em jeito de recado: "não só geram receita fiscal para o governo e valorizam a cidade que nunca dorme, como também providenciam oportunidades de emprego adicionais aos residentes de Macau".

Leia Também: Macau baixa nível de alerta após passagem de 4.º tufão em cinco semanas

FONTE: https://www.noticiasaominuto.com/economia/2864981/a-ascensao-e-queda-das-casas-de-penhores-de-macau#utm_source=rss-ultima-hora&utm_medium=rss&utm_campaign=rssfeed


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